DIÁRIO DO RIO MUNDAÚ
Autor: José Amauri Clemente
Imagem: Thiago Aquino |
Página 01
Querido diário. Hoje é o dia 14 de julho de 1960 e como já te falei, não estou bem. Aquele grupo de seres humanos que há alguns anos resolveu construir suas moradas em minhas margens, decidiu oficializar para sempre sua estadia em um lugar que a natureza prometeu ser somente meu.
Não quero que você pense que não quero doar minhas águas pra eles, é que estou preocupado, eles não estão levando em conta que estão me ofendendo com os esgotos que deixam cair sobre mim. Sabe? eu já ouvi falar de outros rios que foram completamente destruídos. Tenho medo que no futuro em um momento de fúria perca o controle e destrua o que eles levaram tantos anos para construir.
Eles chamam esse dia de Emancipação Política do Município. Tem muitas autoridades presentes, ouvi até alguns dizerem que daqui pra frente o lugar vai se tornar um paraíso. Espero que eles estejam certos.
Página 02
Hoje é o dia 02 de maio de 1962. Ontem eu fiquei irado, tive que suportar água de mais de 10 dias de chuva. Todos os rios despejaram dentro de mim, fui obrigado a represar as águas do rio Mirim e derrubei algumas poucas casas que tinham às minhas margens. Ainda bem que a fúria foi passageira. Estou triste com tudo isso, mas não consigo me controlar. É algo inexplicável.
Página 03
Hoje é o dia 02 de abril de 1992, quinta feira. Estou doente, muito doente. Às minhas margens estão criadouros de porcos, esgoto de matadouro, lixo em abundância e muitas casas. Estou dando sinal de transbordamento há dois dias, mas parece que ninguém se dar conta. O comercio da cidade invadiu meu lugar. Se novamente eu precisar represar as águas, não terei por onde passar...
Hoje é o dia 03 de abril de 1992, são 7 horas da noite, acabei ter uma crise horrível. Não consegui me controlar e arrastei muitas casas. O comercio está completamente destruído, Matei duas pessoas, dizem que uma estava grávida. Invadi o mercado público e derrubei várias lojas. Foi horrível. Sinto-me culpado.
Hoje é o dia 03 de abril de 1992, são 7 horas da noite, acabei ter uma crise horrível. Não consegui me controlar e arrastei muitas casas. O comercio está completamente destruído, Matei duas pessoas, dizem que uma estava grávida. Invadi o mercado público e derrubei várias lojas. Foi horrível. Sinto-me culpado.
Página 04
18 de junho de 2010 foi o dia mais triste de minha vida. O dia em que perdi totalmente o controle e com muita fúria arrastei casas de velhos e novos amigos.
Eu sei que todos me culpam pelo acontecido. Poucos, porém param para entender que não tenho culpa se seres humanos construíram suas moradas no caminho por onde eu sempre passei. As águas jogadas sobre mim foram muitas até meu amigo Mirim que sempre foi tranquilo se enfureceu quando represei suas águas. Foi horrível! Nunca fiquei tão agitado assim.
Eu sei que todos me culpam pelo acontecido. Poucos, porém param para entender que não tenho culpa se seres humanos construíram suas moradas no caminho por onde eu sempre passei. As águas jogadas sobre mim foram muitas até meu amigo Mirim que sempre foi tranquilo se enfureceu quando represei suas águas. Foi horrível! Nunca fiquei tão agitado assim.
Não lembro de muita coisa, mas dizem que derrubei várias casas e prédios no comercio, inclusive um jovem foi soterrado, ou arrastado, sei lá... Sei apenas que a tragédia foi a maior que já causei.
Eu sabia que não iria suportar muito. Há três dias os humanos estavam tão contentes, Fizeram uma grande festa para comemorar 50 anos de emancipação política. Eu fiz de tudo para não causar danos a eles. Não pude me controlar.
Eu sabia que não iria suportar muito. Há três dias os humanos estavam tão contentes, Fizeram uma grande festa para comemorar 50 anos de emancipação política. Eu fiz de tudo para não causar danos a eles. Não pude me controlar.
Não tenho coragem de pedir desculpas aos moradores. E o pior de tudo é que não vou poder devolver o que levei deles. Ouvi boatos de que a cidade vai se mudar para outro lugar. Dizem que vão armar umas barracas, mas estão todos com medo da minha fúria. Espero que o lugar que eles venham escolher para fazer a nova cidade seja bem longe de qualquer perigo. Talvez um dia algum humano leia estas páginas e entendam minha situação. Eu quero ser amigo dos humanos, mas eles precisam colaborar comigo.
Relatado pelo rio no perímetro do Município de Santana do Mundaú - AL, uma das cidades mais atingidas pelas enchentes do Rio Mundaú.
Amauri Clemente
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MUITO BOM!!!!!
ResponderExcluirO RIO ESTAR FALANDO A MAIS PURA VERDADE
NÓS INVADIMOS UM ESPAÇO QUE É DELE E AGORA ESTAMOS SOFRENDO AS CONSEQUENCIAS.
A iniciativa foi enorme...Gostei muito dessa historinha verdadeira...espero que as pesssoas agora consigam entender que não foi culpa do nosso RIO MUNDAÚ...Mas que a culpa foi nossa.. PARABÉNS PARA O AUTOR, e tb para este blog..
ResponderExcluirexelente a iniciativa deste autor, tudo isso é verídico mas eu gostaria que pesquizasse mais que ainda tem muitas histórias prara o RIO MUNDAÚ nos contar. mesmo assim PARABÉNS AUTOR...
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