Especialista afirma que o rio Mundaú, principal responsável pela tragédia em Alagoas e Pernambuco, nunca sofreu obras de contenção
Moradores das nove cidades cortadas pelo rio Mundaú, na zona da mata de Alagoas, estão acostumados a erguer os móveis nas épocas mais chuvosas. O transbordamento do Mundaú, tido por especialistas como um dos principais responsáveis pela tragédia no Nordeste brasileiro, é freqüente. “As enchentes são recorrentes. A população já está acostumada a ver água dentro de casa, só não que ela leve a casa”, afirma Valmir Alburquerque Pedrosa, professor de mestrado em Recursos Hidrídicos da Universidade Federal de Alagoas (UFA).
Pedrosa, estudioso do tema e que já publicou uma análise sobre a cheia do rio Mundaú ocorrida em agosto de 2000, afirma que a inundação foi a maior já vista na região. “A situação é caótica. Onde tinha casa, a água levou tudo, parede, telha. Só deixou o alicerce”, conta.
Segundo ele, apesar do número menor de mortos, o nível e a força da água foram maiores, inclusive, que os da cheia registrada em 1969, quando cerca de mil pessoas morreram. A mãe de Pedrosa, Bernardete, de 61 anos, morava em São José das Lages, um dos municípios mais atingidos na época, e sobreviveu, por pouco. “Ela ficou em cima da laje de casa por horas. Quem não tinha laje, foi com a correnteza”, afirma.
A enchente, de acordo com Pedrosa, só não fez mais vítimas porque o ápice ocorreu durante o dia, por volta das 7h. Além disso, algumas cidades contaram com carros de som avisando os moradores para deixarem o local às pressas.
Outras grandes enchentes no rio Mundaú ocorreram em 1987, 1988 e 2000. Esta última deixou 36 mortos e mais de 70 mil desabrigados. Engana-se quem pensa que a deste ano deva ser a última. “De 10 em 10 anos, estudos mostram que o Mundaú apresenta tendência para catástrofes como essa. Quem administra os municípios não pode se conformar. Se brincar, acontece”, diz.
Falta de obras
De acordo com o especialista, mesmo sabendo do risco iminente de novas cheias na região, nada foi feito para conter a fúria do Mundaú. “Não é novidade nem para os governantes, nem para a população, mas ele nunca sofreu uma obra de infra-estrutura para diminuir os impactos da chuva”, afirma. E a quantidade de chuva na região, como mostram os índices do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (Cptec), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foi intensa.
Para Pedrosa, além de obras para contenção de enchentes, é preciso mudança no uso e ocupação do solo e que o governo não permita mais a construção de casas em áreas ribeiras. “Têm famílias que moram praticamente dentro da água, com metade da casa pendurada no rio. Agora, as casas devem ser reerguidas, mas em outros locais”.
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